Os efeitos dos defensivos agrícolas na microbiota do solo

Defensivos alteram biologia do solo

Apesar da importância que os defensivos agrícolas têm para o aumento da produção, muitas dessas moléculas podem causar efeitos adversos nos seres humanos, outros animais e ao meio ambiente. Por isso, o mercado consumidor de hoje busca produtos que são mais seguros e que, portanto, não apresentam essas moléculas químicas.

Além disso, os defensivos podem alterar também a biologia do solo, tornando-o menos saudável e impedindo que possa aproveitar todos os seus potenciais. Sendo assim, veremos os efeitos que o uso dos defensivos agrícolas causa sobre a microbiota do solo, utilizando a ferramenta Agri-Analysis da BIOME4ALL.

Redução da capacidade de biocontrole

A aplicação de defensivos visa o controle de pragas que ameaçam as lavouras. Porém, enquanto atuam de maneira eficaz sobre os organismos alvo, podem, em paralelo, reduzir o potencial natural da microbiota de proteger a planta contra outros tipos de pragas para as quais estes defensivos não são eficazes.

Podemos observar esse tipo de efeito comparando dois solos cultivados com laranjas, sendo que um deles não recebeu aplicações de herbicidas e inseticidas. Quando examinamos a capacidade desses dois solos de produzir substâncias antibacterianas e nematicidas, notamos que, no solo tratado com defensivos, esse potencial natural da microbiota do solo decaiu. Ou seja, apesar de os defensivos reduzirem a frequência de ervas daninhas e de insetos prejudiciais, o solo perdeu parte do seu potencial de controlar nematoides e bactérias fitopatogênicas.

Atributos nutricionais também são afetados

Outro tipo de alteração que podemos observar em solos tratados com defensivos agrícolas é dos atributos funcionais da microbiota, associados à nutrição vegetal. Como exemplo, no solo cultivado com laranja tratado com herbicidas e inseticidas, houve redução da capacidade de fixação do nitrogênio. Em comparação com o solo não tratado, o potencial foi reduzido quase pela metade.

Com a Agri-Analysis, podemos identificar o motivo de os defensivos aplicados reduzirem a capacidade de fixação do nitrogênio no solo. O herbicida e o inseticida empregados diminuíram a frequência de bactérias fixadoras de nitrogênio dos gêneros Bradyrhizobium pela metade. A situação dos organismos dos gêneros Rhizobium e Mesorhizobium foi ainda pior; os defensivos os eliminaram completamente do solo.

No mesmo solo, houve também uma redução da capacidade da microbiota oxidar o enxofre. De maneira análoga à fixação do nitrogênio, esse processo microbiano torna o enxofre disponível para os vegetais. O mesmo aconteceu com um processo responsável por disponibilizar o ferro às plantas.

É importante conhecer a microbiota do solo

Com esses exemplos, verificamos que os defensivos agrícolas podem provocar importantes efeitos adversos sobre a microbiota de um solo, e que possuem consequências para o manejo que o produtor emprega na sua lavoura.

Com as perdas de capacidade de combate de pragas e de fertilidade do solo, o produtor precisará utilizar estratégias compensatórias nesse solo, especialmente se forem observadas diminuições de produtividade. Contudo, estas ações acabam resultando em um maior custo de produção, o que um manejo integrado de pragas e o conhecimento mais aprofundado da biota do solo poderiam evitar.

Dr. Marcus Adonai Castro da Silva – cofundador da Biome4all.