Os micro-organismos do solo e a tolerância à seca

Saiba como os microrganismos do solo podem ajudar as plantas a passarem por situações de estresse hídrico.

Um dos principais medos dos produtores, sobretudo em relação ao plantio, é a falta de chuvas. Isso porque a escassez de água pode levar ao estresse hídrico das plantas, acarretando na redução ou perda de 100% da produção. O que muitos agricultores ainda não sabem, é que os micro-organismos do solo podem ajudar as plantas a tolerarem condições de estresse.

É fato que as chuvas estão cada vez mais irregulares na maioria das regiões do País. Vale ressaltar o cenário que ocorreu no estado do Paraná, na safra 2021/22 de grãos. Nesta safra, o fenômeno La Niña ocasionou uma grande estiagem, afetando diretamente culturas de milho, soja e até pastagens locais. Na ocasião, foram estimadas perdas de 73% nas lavouras de soja (1).

Os micro-organismos do solo e o estresse hídrico

O papel dos micro-organismos presentes no solo vai muito além daquelas interações conhecidas e amplamente divulgadas acerca da fixação biológica de Nitrogênio (FBN) ou do aumento da capacidade de troca catiônica (CTC).

Os micro-organismos também podem atuar no combate ao estresse hídrico. De modo geral, podemos mencionar duas classes envolvidas nesse processo:

  • Os FMAs (Fungos  Micorrízicos  Arbusculares)
  • As BPCPs (Bactérias Promotoras de Crescimento de Plantas)

Os FMAs, por mais que pouco comentados, protagonizam um papel fundamental referente à tolerância à seca (2). Isso por que eles são fungos que podem se associar as raízes, ajudando a explorar um maior volume de solo.

Já as BPCPs, englobam uma ampla gama de bactérias de vida livre que, associadas às plantas, são responsáveis por auxiliar no crescimento vegetativo. Os gêneros mais comumente conhecidos são:

  • Bacillus
  • Bradyrhizobium
  • Azospirillum
  • Gluconacetobacter
  • Rhizobium
  • Pseudomonas

Essas bactérias atuam em uma espécie de cooperação com as raízes da planta, de modo que, através de diversos processos fisiológicos e bioquímicos, são capazes de atenuar os efeitos negativos da seca.

Como agem esses micro-organismos do solo?

Os Fungos Micorrízicos acionam o sistema de defesa de um modo inteligente, gerando uma mudança hormonal que altera a condutância estomática da planta.

Especificamente os FMAs pertencentes ao gênero Glomus, empregam diversos mecanismos no combate ao estresse hídrico, por meio da alteração na arquitetura das raízes, de modo que suas hifas servem como um alongamento das raízes no solo. Além disso, podem produzir a glomalina, que atua como material cimentante no solo e armazenamento de carbono orgânico (3).

Já as BPCP, auxiliam na produção de algumas substâncias importantes que atuam diretamente no estresse hídrico, como o Ácido Abscísico (ABA), os exopolissacarídeos, a enzima ACC-deaminase e o Ácido Salicílico (AS). Esse cenário resulta em um melhor desenvolvimento e alongamento das raízes, fator vital principalmente nos primeiros dias de semeadura (4). Bactérias do gênero Azospirillum, como A. Brasiliense, podem produzir ACC-deaminase, por exemplo. (4).

O Ácido Salicílico, produzido por algumas espécies do gênero Bacillus, pode agir na expressão de genes envolvidos com os mecanismos de defesa vegetal. De acordo com estudos, plantas com raízes colonizadas por micro-organismos produtores desta substância são mais tolerantes à seca em comparação a outras plantas sem estes seres (5, 6).  

Como saber se o meu solo está preparado

Sem dúvidas, estar ciente da microbiota do solo é estar um passo à frente quando se trata de produtividade. Por isso, a B4A tem em sua demonstração de resultados uma seção exclusiva para adaptação ao estresse.

Fonte: Plataforma B4A

Como pode ser visto, o resultado apresenta todos os parâmetros para uma verificação minuciosa dos fatores bioquímicos do solo envolvidos diretamente a uma boa adaptação ao estresse hídrico. Além disso, também conta com a relação completa de gêneros benéficos presentes no solo.

  • Tanto das BPCPs.
Fonte: Plataforma B4A.
  • Quanto dos FAMs.
Fonte: Plataforma B4A

Obter esse conhecimento pode diminuir custos na produção e aumentar a eficiência dos recursos utilizados na lavoura, assim como elevar a produtividade e manter um sistema mais sustentável.

Tudo isso é realizado com o auxílio da mais recente tecnologia genética, possibilitando mapear os diversos microrganismos presentes no solo.

Para saber como está a microbiologia do seu solo e conhecer nosso serviço FB Diagnóstico, entre em contato com a nossa equipe!

Autoria: Marcos Cabral e Camilla Castellar, da B4A.

Referências

1- Seca na Região Sul: desafios, impactos e perspectivas para 2022 | MilkPoint. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao-de-leite/seca-na-regiao-sul-desafios-e-impactos-228893/#:~:text=E%20o%20que%20esperar%20em. Acesso em: 17 dez. 2022.

2- Folli-Pereira, Muriel da Silva et al. Micorriza arbuscular e a tolerância das plantas ao estresse. Revista Brasileira de Ciência do Solo [online]. 2012, v. 36, n. 6 [Acessado 18 Dezembro 2022], pp. 1663-1679. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-06832012000600001. Epub 30 Jan 2013. ISSN 1806-9657. https://doi.org/10.1590/S0100-06832012000600001.

3- KAVAMURA, V. Bactérias associadas às cactáceas da Caatinga: promoção de crescimento de plantas sob estresse hídrico. 2012. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, 2012. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11138/tde-25102012-095956/publico/Vanessa_Nessner_Kavamura.pdf Acesso em: 17 dez. 2022.

4- PORTO, E. M. V.; TEIXEIRA, F. A. .; FRIES, D. D.; JARDIM, R. R. .; AMARO, H. T. R. .; SANTOS FILHO, J. R. dos .; SANTOS, J. P. dos; JESUS, F. M. de .; SILVA, H. S. .; VIEIRA, T. M. Plant growth-promoting microorganisms as mitigators of water stress in pastures: a narrative review. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 11, p. e514111134029, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i11.34029. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/34029  Acesso em: 17 dez. 2022.

5- DA SILVA, A. ÁCIDO SALICÍLICO COMO ATENUADOR DE ESTRESSE HÍDRICO NAS FASES DE GERMINAÇÃO E CRESCIMENTO INICIAL EM GERGELIM. 2015. Tese (Mestrado) – Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2015. Disponível em: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/2337 Acesso em: 19 dez. 2022.

6 – Forchetti, G., Masciarelli, O., Izaguirre, M.J. et al. Endophytic Bacteria Improve Seedling Growth of Sunflower Under Water Stress, Produce Salicylic Acid, and Inhibit Growth of Pathogenic Fungi. Curr Microbiol 61, 485–493 (2010). https://doi.org/10.1007/s00284-010-9642-1.

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