CANA: como diferentes cultivares impactam na microbiota

Introdução

A cana-de-açúcar é uma cultura profundamente enraizada na história e na economia do Brasil. Desde o século XVI, quando foi introduzida pelos colonizadores portugueses, a cana tem sido uma das principais fontes de riqueza do país. Atualmente, o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar, contribuindo com mais de 30% da produção global nos últimos anos.

Além disso, a cana-de-açúcar desempenha um papel crucial na produção de etanol, um biocombustível que ajuda a reduzir a dependência de combustíveis fósseis e as emissões de gases de efeito estufa.

A área destinada ao cultivo de cana-de-açúcar no Brasil é significativa. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2023/2024, a produção brasileira de cana-de-açúcar atingiu 713,2 milhões de toneladas, estabelecendo um novo recorde na série histórica.

Essa expansão reflete a importância econômica e social da cultura, especialmente em regiões como o Sudeste e Centro-Oeste, onde a cana é uma das principais atividades agrícolas.

Com séculos de cultivo contínuo, a cana-de-açúcar não é apenas uma planta; ela se tornou parte integrante da identidade agrícola brasileira. No entanto, para manter a competitividade e a sustentabilidade da cultura, é essencial adaptar-se às novas demandas e desafios, o que nos leva à discussão sobre a necessidade de novos cultivares.

A Necessidade de Novos Cultivares de Cana-de-Açúcar no Brasil

A agricultura é uma ciência dinâmica, constantemente moldada por fatores como mudanças climáticas, pragas emergentes e a busca por maior produtividade. Nesse contexto, a cana-de-açúcar não é exceção. A introdução e o desenvolvimento de novos cultivares são essenciais para atender às demandas atuais e futuras do setor sucroenergético brasileiro.

Desafios Atuais e a Busca por Eficiência

Com o avanço das fronteiras agrícolas, a cana-de-açúcar passou a ser cultivada em áreas com condições edafoclimáticas distintas daquelas tradicionais. Isso exige cultivares que sejam adaptados a diferentes tipos de solo, regimes hídricos e temperaturas. Além disso, a pressão por práticas agrícolas mais sustentáveis e a redução do uso de agroquímicos impulsionam a busca por variedades mais resistentes a pragas e doenças.

Principais Cultivares e Suas Características

O Brasil possui uma ampla variedade de cultivares de cana-de-açúcar, cada uma desenvolvida para atender a necessidades específicas. Entre as mais comuns, destacam-se:

  • RB867515: Conhecida por sua alta produtividade e resistência a doenças como a ferrugem.
  • SP80-3280: Apresenta boa adaptação a diferentes condições climáticas e solos, além de resistência a pragas.
  • RB92579: Destaca-se pela alta concentração de sacarose e tolerância à seca.

Essas variedades são resultado de programas de melhoramento genético que visam não apenas aumentar a produtividade, mas também melhorar a qualidade do produto final e a sustentabilidade do cultivo.

Adaptação às Novas Demandas

Com o crescente interesse por biocombustíveis e a necessidade de reduzir a pegada de carbono, há uma demanda por cultivares que proporcionem maior eficiência na produção de etanol. Além disso, a mecanização da colheita exige plantas com características morfológicas específicas, como colmos mais eretos e uniformes, facilitando o processo e reduzindo perdas.

Diversificação Genética e Sustentabilidade

A diversificação de cultivares é fundamental para evitar a homogeneidade genética, que pode tornar as plantações mais suscetíveis a surtos de pragas e doenças. Ao introduzir novas variedades, os agricultores podem reduzir riscos e aumentar a resiliência das lavouras, garantindo a sustentabilidade a longo prazo.

Impacto das Diferentes Cultivares na Microbiota do Solo

O solo é um ecossistema vivo, abrigando uma infinidade de micro-organismos que desempenham papéis cruciais na saúde e produtividade das plantas. A relação entre as cultivares de cana-de-açúcar e a microbiota do solo é uma dança complexa, onde cada passo influencia o outro.

Exsudatos Radiculares

As raízes das plantas liberam substâncias conhecidas como exsudatos radiculares. Esses compostos, que incluem açúcares, aminoácidos e ácidos orgânicos, servem como uma espécie de convite para os micro-organismos do solo. Cada cultivar de cana-de-açúcar possui uma composição única de exsudatos, o que significa que elas recrutam comunidades microbianas distintas.

Por exemplo, estudos demonstram que os exsudatos podem atrair bactérias benéficas que auxiliam na solubilização de fosfatos, tornando-os mais disponíveis para as plantas. Assim, a escolha do cultivar pode influenciar diretamente a disponibilidade de nutrientes no solo.

Diversidade Microbiana e Saúde do Solo

A diversidade microbiana é um indicador de saúde do solo. Cultivares que promovem uma microbiota rica e variada tendem a melhorar a estrutura do solo, aumentar a ciclagem de nutrientes e suprimir patógenos. Por outro lado, cultivares que recrutam uma microbiota pouco diversificada podem favorecer o aparecimento de patógenos ou criar desequilíbrios no solo. Esses solos ficam mais suscetíveis a doenças e à redução da fertilidade a longo prazo.

A escolha do cultivar afeta a abundância relativa de grupos microbianos importantes como bactérias fixadoras de nitrogênio, fungos micorrízicos arbusculares (FMA), actinobactérias decompositoras e bactérias solubilizadoras de fósforo. Isso significa que, mesmo com um bom manejo físico-químico, o potencial biológico do solo pode variar de acordo com o cultivar plantado.

Em um estudo publicado por Souza et al. (2019), observou-se que diferentes variedades de cana influenciavam significativamente a estrutura da comunidade bacteriana associada à rizosfera, afetando principalmente gêneros relacionados à mobilização de fósforo e fixação biológica de nitrogênio. Essas diferenças impactavam diretamente o crescimento inicial das plantas e a produtividade futura.

Cultivares, patógenos do solo e microrganismos antagônicos

Outro ponto importante é o efeito indireto que cada cultivar exerce sobre a presença de patógenos e a dinâmica dos micro-organismos antagônicos no solo. Exsudatos radiculares também podem estimular a proliferação de fungos ou bactérias que competem com patógenos, como Trichoderma spp. ou Bacillus subtilis, aumentando a capacidade supressiva do solo.

Em contrapartida, cultivares mais suscetíveis liberam compostos que favorecem populações de fungos patogênicos como Fusarium spp. e Colletotrichum spp. Se esses cultivares forem cultivados continuamente sem rotação ou manejo biológico adequado, há um acúmulo desses patógenos no banco de sementes microbianas do solo, aumentando o risco de surtos de doenças.

O solo responde como uma “memória viva”: aquilo que se cultiva hoje molda a comunidade microbiana do amanhã. Escolher cultivares que favoreçam comunidades benéficas é uma maneira de fortalecer o solo e proteger as próximas safras.

Efeito sobre a estrutura física do solo

A microbiota estimulada pelos exsudatos radiculares de determinados cultivares também influencia a formação de agregados do solo, essenciais para a porosidade, infiltração de água e aeração. Bactérias que produzem exopolissacarídeos (EPS) e fungos micorrízicos são fundamentais nesse processo.

Cultivares que recrutam uma microbiota mais rica em produtores de EPS contribuem para solos mais estruturados, que retêm melhor a umidade, resistem à compactação e têm maior resiliência à erosão. Isso é especialmente importante em regiões onde a cana é cultivada em áreas de relevo ondulado e sujeito a chuvas intensas.

Cultivares e eficiência no uso de fertilizantes

A microbiota recrutada por cada cultivar também afeta a eficiência no uso de fertilizantes. Algumas comunidades microbianas aumentam a mineralização de nutrientes e a fixação biológica de nitrogênio, reduzindo a necessidade de adubações pesadas.

Por exemplo, cultivares que favorecem a presença de bactérias do gênero Azospirillum e fungos micorrízicos podem melhorar a absorção de nitrogênio e fósforo em até 20%. Isso significa economia direta no bolso do produtor e redução de impacto ambiental.

Conclusão

Quando o produtor escolhe um cultivar de cana-de-açúcar, ele está escolhendo não só a genética da planta, mas também a microbiota que irá habitar seu solo. Essa decisão impacta diretamente a saúde do solo, a eficiência dos fertilizantes, a resistência a pragas e doenças e a produtividade final.

Por isso, monitorar o solo e entender quais microrganismos são recrutados por cada cultivar deixa de ser um luxo científico e passa a ser uma ferramenta de manejo inteligente. Solos biologicamente equilibrados são mais produtivos, resilientes e exigem menos intervenções químicas.

A B4A está pronta para ajudar você a transformar essa ciência em prática. Através do FB Diagnóstico, é possível mapear a microbiota do solo, entender quais grupos microbianos estão presentes, quais funções estão sendo exercidas e se o solo está caminhando para ser mais fértil ou mais vulnerável.

No cenário atual de pressão por sustentabilidade e eficiência, escolher cultivares de cana que favoreçam uma microbiota benéfica é um investimento no futuro do seu canavial. E com o apoio da B4A, você toma decisões baseadas em dados, não em achismos.

Quer entender melhor o impacto do seu cultivar na microbiota do solo? Fale com a B4A. Vamos juntos cuidar da saúde do seu solo e da sua produtividade!

Autor: Dr. Estácio J Odisi da B4A.

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Dr. Estácio J Odisi

Dr. Estácio J Odisi

PhD em Biotecnologia e Biociências e co-fundador da B4A

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