Como economizar fertilizantes a partir das interações microbianas no solo?

A invasão da Ucrânia pela Rússia tem preocupado os profissionais do agronegócio, que temem principalmente as consequências comerciais provocadas pelo conflito no leste europeu. Isso porque 62% dos adubos e fertilizantes usados no Brasil são atualmente importados da Rússia, demonstrando a enorme dependência do nosso país nesse insumo.

Por sorte, já existem formas acessíveis de economizar fertilizantes em uma lavoura, como, por exemplo, aproveitando o potencial natural dos micro-organismos na promoção da fertilidade do solo a partir da alteração das propriedades químicas de seus nutrientes.

Neste texto, vamos explicar em detalhes o funcionamento das interações microbianas no solo e demonstrar como elas podem otimizar o uso de adubos e fertilizantes, reduzindo a dependência do insumo importado da Rússia. Confira:

Principais interações entre micro-organismos e nutrientes do solo

Todos os elementos que compõem o solo podem ser encontrados em diversas formas químicas, os quais, por sua vez, podem se transformar a partir da ação de agentes biológicos e não biológicos, no que é classificado como “ciclo biogeoquímico”.

Nesse contexto, os micro-organismos são os agentes biológicos que mais se destacam, pois têm alta versatilidade bioquímica e atividade metabólica, além de ampla ocorrência no solo.

Por isso, para permitir que estes micro-organismos possam tornar o elemento disponível aos vegetais, é necessário entender os ciclos biogeoquímicos envolvidos, uma vez que nem todas as formas químicas de elementos como nitrogênio, fósforo e potássio podem ser assimiladas pelas plantas.

Como os micro-organismos podem ajudar a economizar fertilizantes?

A necessidade de aplicarmos fertilizantes está relacionada basicamente ao suprimento de eventuais deficiências nutricionais do solo e ao aumento da sua capacidade produtiva. O que muita gente não sabe é que esses resultados também podem ser alcançados a partir de micro-organismos.

Um bom exemplo é o nitrogênio. Mesmo compondo grande parte do ar que respiramos, ele é integrado ao solo a partir da aplicação de fertilizantes de uso comum, já que as plantas não assimilam o nitrogênio na forma química da atmosfera.

Neste caso, os próprios micro-organismos (as bactérias fixadoras de nitrogênio, por exemplo) podem reduzir a dependência e minimizar os danos causados pelos fertilizantes, compostos por amônia e outras moléculas nocivas, como a ureia.

Essa aplicação de micro-organismos fixadores de nitrogênio, aliás, já é realidade em várias culturas – a soja, por exemplo, com as bactérias do gênero Azospirillum e Bradyrhizobium. Mesmo assim, o potencial microbiano para promover a disponibilização de nutrientes é enorme e ainda há muito campo a ser explorado.

Além disso, o uso de micro-organismos também pode ajudar a evitar a deterioração do solo por uso prolongado de fertilizantes químicos, que têm sido associados à contaminação ambiental, especialmente no processo de eutrofização de reservatórios e lagos.

Assim, adotando a estratégia biológica, o produtor evita os efeitos colaterais dos fertilizantes, cria oportunidades de negócios (afinal, a sustentabilidade tem peso na decisão do consumidor) e ainda dribla possíveis consequências comerciais provocadas por conflitos geopolíticos.

Otimização do uso de fertilizantes a partir da análise genética do solo

Para otimizar o uso dos micro-organismos, é fundamental analisá-los apropriadamente, identificando deficiências e potenciais do solo. A Agri-Analysis, ferramenta de interpretação de dados genéticos de solo desenvolvida pela Biome4All, fornece ampla visão da biota do solo, dos pontos de vista taxonômico e funcional.

Com ela, conseguimos identificar o potencial da microbiota do solo para fixar nitrogênio, solubilizar o fósforo ou promover a disponibilização de micronutrientes. Além disso, também podemos monitorar gêneros de micro-organismos utilizados em insumos biológicos para melhorar a nutrição vegetal.

Esse conjunto de informações permite ajustar as aplicações de fertilizantes, com base na química do solo e também no potencial da microbiota para disponibilizar os nutrientes aos vegetais. Para saber mais sobre os benefícios que a Agri-Analysis pode trazer à sua lavoura, entre em contato conosco!

Texto: Marcus Adonai Castro da Silva, microbiologista e cofundador da Biome4All