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Controle biológico de mofo-branco na cultura da soja por espécies de Trichoderma spp.

Saiba como Trichoderma spp. age como agente de controle biológico para o mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) na cultura da soja

Imagem capa: Josefa Neiane Goulart Batista

O mofo-branco é uma doença de difícil manejo, devido à ausência de resistência genética em cultivares comerciais, à ampla gama de hospedeiros alternativos e à capacidade de produzir abundante quantidade de escleródios (estruturas de resistência que sobrevivem no solo por anos) (4).

Causada por Sclerotinia sclerotiorum, um fungo fitopatogênico capaz de infectar mais de 400 espécies de plantas em todo o mundo (1), é considerada uma das doenças mais relevantes da cultura da soja no Brasil. Isso porque, a área infestada pela doença é estimada em 27% do total da área de produção do País (2).

Desta forma, a integração de medidas de controle é primordial para o sucesso do manejo do mofo-branco em áreas infestadas pelo patógeno, devendo-se adotar todas as recomendações de medidas culturais e controles químico e biológico.

Neste texto, vamos abordar mais especificamente o controle biológico promovido por espécies de Trichoderma spp.

Redução de produtividade

Em áreas altamente infestadas, e quando as condições ambientais são favoráveis ao desenvolvimento da doença, a redução de produtividade pode chegar a 70%, caso as medidas de controle não sejam adotadas a tempo (3).

As perdas de rendimento são causadas pela queda da quantidade e do peso dos grãos, resultante do apodrecimento dos tecidos da planta, principalmente da haste principal e órgãos reprodutivos (1).

Produtos biológicos registrados no Brasil para o controle de mofo-branco na soja

Dentre os agentes de controle biológico com potencial de controle de S. sclerotiorum estudados, encontram-se bactérias e fungos de oito gêneros.

No Brasil, os produtos comerciais com alvo biológico para S. sclerotiorum estão restritos ao gênero Bacillus, sendo o B. subtilis, B. amyloliquefaciens e o B. velezensis, e ao gênero Trichoderma, com T. harzianum, T. asperellum e T. afroharzianum (1).

Dos 44 produtos registrados no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), 32 possuem o gênero Trichoderma spp. como ingrediente ativo, sendo 25 deles da espécie T. harzianum.

Este número alto de produtos a base de Trichoderma spp. se deve ao fato deste ser um fungo de grande versatilidade, pois além de ser um ótimo agente de controle biológico, possui grande capacidade em promover crescimento, além de se adaptar em diferentes condições ambientais.

O Mapa, em parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Informática Agropecuária, desenvolveu um aplicativo em que encontramos um catálogo nacional de Bioinsumos, onde podemos pesquisar todos os produtos registrados para pragas e doenças, assim como produtos biológicos desenvolvidos para promover o crescimento vegetal.

Controle biológico do mofo branco por espécies de Trichoderma spp.

Trichoderma spp. pode atuar de diferentes formas no biocontrole do patógeno, tais como: antibiose, micoparasitismo e competição. Também são relatadas na literatura atividades de promoção de crescimento e indução de resistência na planta hospedeira, como a soja (7).

A grande maioria dos trabalhos científicos são realizados in vitro ou em casa de vegetação. No entanto, quando tais estudos avançam para pesquisas de campo, a expectativa da redução da doença e dos ganhos de produtividade têm se confirmado.

O principal mecanismo de ação de Trichoderma spp. no controle de S. sclerotiorum é o micoparasitismo, crescendo e parasitando escleródios (figura 1), degradando a parede celular das estruturas do patógeno pela ação de enzimas quitinolíticas, principalmente quitinases, glucanases, proteases e celulases (1).

Figura 1: Escleródio de S.sclerotiorum infectado por Trichoderma sp.
Autoria: Maurício C. Meyer (1).

Além do micoparatismo, a antibiose e a indução de resistência em plantas também são citadas como mecanismos de ação prevalentes no controle de S. sclerotiorum (5).

Em estudos de pareamento (em que se coloca o agente de controle biológico em crescimento oposto ao patógeno) realizados com a espécie de Trichoderma harzianum, as hifas de T. harzianum crescem sobre o micélio de S. sclerotiorum. Em avaliações ao microscópio notam-se hifas de S. sclerotiorum tentando romper a barreira de hifas de T. harzianum, formando estruturas “tipo rizomorfo”(aspecto ou forma de raiz) (6),conforme ilustrado na figura 2.

No entanto, a microscopia eletrônica de varredura mostra hifas enroladas de T. harzianum produzindo estruturas semelhantes a ganchos e apressórios, que permitem a penetração nas hifas de S. sclerotiorum (Figura 3). Essa interação sugere parasitismo ao invés de antibiose.

Trichoderma spp. não só tem a capacidade de colonizar e destruir as hifas e escleródios que se formaram, mas também de inibir a formação de novos escleródios segundo pesquisas científicas (6).

Figura 2: Micélios de T. harzianum e S. sclerotiorum opostos um ao outro. Hifas de S. sclerotiorum tentando romper a barreira de hifas de T harzianum formando estruturas “tipo rizomorfo”.
Autoria: Mansour T.  (6)
Figura 3: Micrografia eletrônica de varredura mostrando hifas de T. harzianum ligadas à hifa de S.sclerotiorum. Mostrando a fixação, o enrolamento e a penetração do agente de controle biológico no patógeno.
Autoria: Mansour T. (6).

Formulações de biofungicidas contendo dois ou mais gêneros e/ou espécies de antagonistas têm sido registradas recentemente no Brasil, como, por exemplo, a associação de B. amyloliquefaciens, T. harzianum, T. asperellum.

Tais associações, desde que sejam compatíveis, ampliam o espectro de ação dos agentes de biocontrole, haja visto que podem combinar diferentes mecanismos de ação e promover um controle mais efetivo dos escleródios (1).

Como saber se há potencial de biocontrole no seu solo?

A Biome4all, por meio do serviço FullBio, faz o levantamento de todos os fungos e bactérias existentes no solo. Com isso, é possível verificar a presença de seres que contribuem para a saúde do solo, assim como o papel deles na nutrição das plantas, na sustentabilidade da cultura e na biodiversidade. Como é o caso de Trichoderma spp. abordado no texto de hoje.

Quer saber mais sobre a saúde do seu solo e como fortificar a primeira linha de defesa contra o fungo Sclerotinia sclerotiorumEntre em contato conosco!

Texto: Yasmin Boeira, microbiologista Biome4all

Referências:

1– Bioinsumos na cultura da soja / Maurício Conrado Meyer… [et al.] editores técnicos — Brasília, DF: Embrapa, 2022. 550 p.

2MEYER, M. C.; FERREIRA, L. C.; BAYLÃO, B. S. G.; COSTA, N. B.; GUERZONI, R. A.; PIMENTA, C. B.; NUNES JUNIOR, J.; VENANCIO, W. S. Efeito da disponibilidade de água no solo sobre a germinação carpogênica de Sclerotinia sclerotium, agente causal do mofo branco da soja. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 31., 2010, Brasília, DF. Resumos… Londrina: Embrapa Soja, 2010. p. 217-219.

3– MEYER, M. C.; CAMPOS, H. D.; GODOY, C. V.; UTIAMADA, C. M. (Eds.). Ensaios cooperativos de controle biológico de mofo-branco na cultura da soja – safras 2012 a 2015. Londrina: Embrapa Soja, 2016. 46 p. (Embrapa Soja, Documentos, 368).

4– WILLBUR, J.; MCCAGHEY, M.; KABBAGE, M.; SMITH, D. L. An overview of the Sclerotinia sclerotiorum pathosystem in soybean: impact, fungal biology, and current management strategies. Tropical Plant Pathology, v. 44, p. 3–11, 2019.

5– MONTE, E; BETTIOL, W.; HERMOSA, R. Trichoderma e seus mecanismos de ação para o controle de doenças de plantas. In: MEYER, M. C.; MAZARO, S. M.; SILVA, J. C. da (Eds.). Trichoderma: uso na agricultura. Brasília, DF: Embrapa, 2019. p. 181-199.

6– ABDULLAH, MANSOUR & ALI, NIDA & SULEMAN, PATRICE. Biological control of Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary with Trichoderma harzianum and Bacillus amyloliquefaciens. Crop Protection – CROP PROT. 27. 1354-1359. 10.1016/j.cropro.2008.05.007.

7– ZHANG F, GE H, ZHANG F, GUO N, WANG Y, CHEN L, JI X, LI C. Biocontrol potential of Trichoderma harzianum isolate T-aloe against Sclerotinia sclerotiorum in soybean. Plant Physiol Biochem. 2016 Mar;100:64-74. doi: 10.1016/j.plaphy.2015.12.017. Epub 2016 Jan 8. PMID: 26774866.

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