ARROZ: diminuição de emissão de metano em arroz alagado

Introdução

Você sabia que o arroz é um dos alimentos mais consumidos no Brasil? Pois é, ele está presente na mesa de milhões de brasileiros todos os dias. Grande parte desse arroz vem de cultivos alagados, especialmente no sul do país. Para se ter uma ideia, o Brasil possui cerca de 1,3 milhão de hectares dedicados ao arroz irrigado, com o Rio Grande do Sul concentrando 72,9% dessa área, seguido por Santa Catarina com 11,5% e Tocantins com 8,4% (Globorural).

No entanto, essa prática agrícola tem um lado menos conhecido: a emissão de metano (CH₄), um potente gás de efeito estufa. O cultivo de arroz alagado é responsável por uma parcela significativa das emissões de metano na agricultura, contribuindo para as mudanças climáticas. Mas como exatamente isso acontece? E o que podemos fazer para minimizar esse impacto? Vamos explorar essas questões nos próximos tópicos.

A liberação de metano no cultivo de arroz alagado

Para entender como o metano é liberado nas lavouras de arroz alagado, precisamos mergulhar um pouco na microbiologia do solo. Quando os campos de arroz são inundados, o ambiente se torna anaeróbico, ou seja, sem oxigênio. Nessas condições, micro-organismos específicos, conhecidos como arqueias metanogênicas, entram em ação. Esses micróbios decompõem a matéria orgânica presente no solo, produzindo metano como subproduto desse processo (Embrapa).

Produção de Metano

O processo pode ser descrito em etapas:

  1. Decomposição da matéria orgânica: Resíduos de plantas e outros materiais orgânicos presentes no solo são decompostos por bactérias anaeróbicas, resultando na formação de compostos mais simples, como ácidos graxos, álcool, dióxido de carbono (CO₂) e hidrogênio (H₂).
  2. Metanogênese: As arqueias metanogênicas utilizam esses subprodutos, especialmente H₂ e CO₂, para produzir metano. Esse processo é influenciado por diversos fatores, incluindo a temperatura do solo, o pH e a disponibilidade de substratos.

O metano produzido no solo é então liberado para a atmosfera através de três principais vias: difusão direta, transporte pelas plantas de arroz e ebulição. O transporte pelas plantas ocorre quando o metano se move do solo para a raiz e, em seguida, é liberado através dos tecidos da planta. A ebulição, por sua vez, acontece quando bolhas de metano sobem diretamente para a superfície da água e escapam para o ar.

Emissão de Metano

Diversos fatores influenciam a quantidade de metano emitida, incluindo o tipo de solo, a temperatura, a variedade de arroz cultivada e as práticas de manejo adotadas. Por exemplo, solos ricos em matéria orgânica tendem a produzir mais metano devido à maior disponibilidade de substrato para os micro-organismos metanogênicos. Além disso, temperaturas mais altas podem acelerar a atividade microbiana, aumentando as emissões (Agostinetto et al. 2002).

Estudos indicam que a aplicação de fertilizantes nitrogenados, como a ureia, pode aumentar as emissões de metano. Isso ocorre porque a ureia serve como fonte adicional de nitrogênio, estimulando a atividade microbiana e, consequentemente, a produção de metano. Pesquisas mostram que a aplicação de 200 a 300 kg/ha de N-ureia resulta em emissões máximas de metano, enquanto doses entre 0 e 100 kg/ha produzem emissões inferiores (Embrapa).

No entanto, nem todo o metano produzido é liberado na atmosfera. Uma parte significativa é oxidada por bactérias metanotróficas presentes na interface solo-água. Essas bactérias convertem o metano em CO₂ antes que ele escape para a atmosfera. Medições em campos de arroz alagados indicam que aproximadamente 80% do metano produzido é oxidado na superfície do solo (Siniscalchi (2015).

Estratégias para reduzir a emissão de metano no cultivo de arroz alagado

Agora que entendemos como o metano é produzido e liberado nas lavouras de arroz alagado, surge a pergunta: o que podemos fazer para reduzir essas emissões? Felizmente, existem várias estratégias que os produtores podem adotar, muitas das quais estão diretamente relacionadas à microbiologia do solo.

Manejo da água: Uma das abordagens mais eficazes é o manejo adequado da irrigação. Práticas como a irrigação intermitente, onde o campo é periodicamente drenado e re-inundado, podem reduzir significativamente as emissões de metano. Isso ocorre porque a drenagem temporária do solo introduz oxigênio, inibindo a atividade das arqueias metanogênicas (Embrapa).

Uso de variedades de arroz de ciclo curto: Variedades de arroz com ciclos de crescimento mais curtos podem diminuir o período em que o solo permanece alagado, reduzindo assim o tempo disponível para a produção de metano. Estudos indicam que a escolha de variedades adequadas pode resultar em uma redução significativa das emissões (Canal Rural).

Adição de emendantes ao solo: A incorporação de certos materiais ao solo, como compostos orgânicos específicos, pode alterar a atividade microbiana e reduzir a produção de metano. Por exemplo, a adição de compostos que favorecem micro-organismos competitivos pode diminuir a população de arqueias metanogênicas.

Rotação de culturas: Alternar o cultivo de arroz com outras culturas que não requerem inundação pode ajudar a interromper o ciclo de produção de metano, além de melhorar a saúde geral do solo.

Monitoramento da microbiologia do solo: Entender a composição microbiana do solo permite que os produtores adotem práticas específicas para controlar as populações de micro-organismos responsáveis pela produção de metano. Ferramentas modernas de análise microbiológica podem fornecer insights valiosos nesse sentido.

Inoculação com micro-organismos metanotróficos: Introduzir no solo bactérias capazes de oxidar o metano pode aumentar a taxa de oxidação desse gás, reduzindo sua liberação para a atmosfera.

Reduzir as emissões de metano no cultivo de arroz alagado é um grande desafio, mas diversas estratégias podem ser adotadas para minimizar esse impacto ambiental. A tabela a seguir resume algumas das principais técnicas, destacando o mecanismo de atuação e seus efeitos sobre a microbiologia do solo.

Tabela: Estratégias para Redução da Emissão de Metano no Arroz Alagado

EstratégiaMecanismo de Redução de MetanoImpacto na Microbiologia do Solo
Irrigação intermitenteReduz as condições anaeróbicas, limitando a atividade das arqueias metanogênicasEstimula a diversidade microbiana, favorecendo organismos aeróbicos
Uso adequado de fertilizantes nitrogenadosDiminui a disponibilidade de substratos para metanogêneseReduz a proliferação de arqueias metanogênicas no solo
Incorporação de resíduos orgânicosFavorece a oxidação do metano ao estimular bactérias metanotróficasAumenta a presença de bactérias oxidantes de metano
Seleção de cultivares específicasVariedades com menor exsudação radicular reduzem a produção de metanoInfluencia a composição microbiana ao redor das raízes
Inoculação de bactérias metanotróficasAcelera a conversão de metano em CO₂ antes de ser liberado na atmosferaPotencializa a oxidação biológica do metano

Conclusão

A produção de arroz alagado é vital para a alimentação de milhões de brasileiros, mas também representa um desafio em termos de emissões de metano e impacto ambiental. Ao adotarmos práticas agrícolas que consideram a microbiologia do solo, podemos reduzir significativamente essas emissões, contribuindo para a sustentabilidade do setor e para a saúde do nosso planeta.

A B4A está comprometida em auxiliar produtores nessa jornada, oferecendo soluções inovadoras para o monitoramento e manejo da microbiologia do solo. Com nossas ferramentas e expertise, você pode otimizar sua produção de arroz, reduzindo o impacto ambiental e promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis.

Lembre-se: ao cuidar do solo e dos micro-organismos que nele habitam, você não está apenas garantindo uma colheita mais saudável, mas também contribuindo para um futuro mais verde e sustentável para todos.

Autor: Dr. Estácio J Odisi da B4A.

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Dr. Estácio J Odisi

Dr. Estácio J Odisi

PhD em Biotecnologia e Biociências e co-fundador da B4A

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