O enxofre é um nutriente exigido em grandes quantidades pelas plantas superiores. No solo, o enxofre pode estar na forma orgânica e inorgânica. Na parte orgânica, o enxofre compõe moléculas tanto nos vegetais vivos quanto nos em decomposição, e também nos micro-organismos do solo. Na parte inorgânica, ele apresenta vários estados de oxidação, variando de -2 até a +6.
Os micro-organismos atuam fortemente nas transformações do enxofre no solo, sendo que, de forma geral, uma das mais importantes para a agricultura é a oxidação de formas mais reduzidas até o sulfato (SO42-). Isso porque as plantas conseguem absorver o enxofre principalmente na forma de sulfato.
Devido à importância do enxofre e dos relatos recentes da deficiência deste nutriente, neste texto iremos abordar a importância do enxofre para agricultura, as suas formas de adubação e oxidação microbiana do enxofre elementar na agricultura.
Importância do enxofre para agricultura
As plantas utilizam o enxofre para formar aminoácidos, como a cisteína e metionina, na síntese da coenzima A e na produção de vitaminas (3). Em caso de falta deste elemento, elas apresentam reduções de crescimento e de produtividade.
Os sintomas que auxiliam na diagnose de deficiência nutricional de enxofre são o amarelecimento de folhas mais jovens da planta, de forma simétrica e em gradiente.
Formas de adubação de enxofre
Atualmente, o enxofre tem sido disponibilizado para as culturas de forma indireta, com o uso de adubos que são aplicados com outras finalidades, como, por exemplo, com a utilização de supersimples, que visa à adubação fosfatada, ou o gesso, responsável pela correção de acidez em profundidade.
Além disso, o enxofre pode chegar ao solo por meio da aplicação de fungicidas com o elemento em sua formulação e também através de poluentes atmosféricos decorrentes da queima de combustíveis fósseis (1).
Entretanto, é crescente a ocorrência de deficiência de enxofre na agricultura, devido ao uso de formulações de fertilizantes que não contêm enxofre, à redução de agrotóxicos com este elemento e à elevada taxa de exportação do nutriente em frutos e grãos (1,3).
Assim, outras formas de aplicação do enxofre na agricultura têm sido prospectadas. Uma delas é a adubação com enxofre elementar (S0) e a adubação orgânica, rica em sulfeto (H2S). Para ambas as formas mencionadas, é necessário que ocorra a oxidação do composto até a forma química que é absorvível pelas plantas (SO4).
Oxidação do enxofre elementar por micro-organismos na agricultura
Fungos e bactérias do solo têm potencial de oxidar compostos de enxofre. Entretanto, estudos têm apontado que as bactérias são mais eficientes neste processo em comparação aos fungos – entre os fungos, podemos destacar os das espécies do gênero Trichoderma, Myrothecium, Aspergillus, entre outros (2).
Entre as bactérias, espécies do gênero Thiobaccilus são as mais estudadas, pois podem ser cultivadas em meios de cultura de laboratório. Entretanto, com o uso de técnicas genéticas, que permitem identificar os microrganismos do solo, independente de cultivo, outros micro-organismos também têm sido relacionados com a oxidação do enxofre (1,3).
Um dos genes envolvido na oxidação do enxofre realizada por bactérias é chamado de SoxB. A sua frequência em diferentes solos agrícolas foi quantificada em um estudo (4). Os resultados mostraram que houve uma relação positiva da abundância deste gene com a oxidação de enxofre elementar e consequente transformação em SO4. Um fato interessante é que bactérias do gênero Thiobaccilus não foram encontrados nos solos deste estudo, mostrando que outras bactérias também têm grande importância na oxidação do enxofre nos solos agrícolas (4).
Alguns fatores que influenciam na abundância de micro-organismos que atuam na oxidação do enxofre estão (4):
- Teor de matéria orgânica;
- pH do solo;
- Disponibilidade de nutrientes, como o enxofre e nitrogênio;
- Aplicação de S elementar.
Como saber o potencial de micro-organismos do solo na oxidação do enxofre?
No Brasil, pouco se sabe sobre o potencial dos microrganismos do solo na oxidação do enxofre.
Entretanto, a B4A trabalha com uma ferramenta que é capaz de checar o potencial microbiano desta função no solo, e compará-la com outros solos brasileiros, o FB Diagnóstico. Também, é possível aplicar a tecnologia para comparar duas ou mais áreas com diferentes manejos para auxiliar na definição de estratégias de aplicação de fertilizantes.
Para saber mais sobre o potencial dos micro-organismos do solo na ciclagem de nutrientes, clique aqui.
Camilla Castellar, P&D em microbiologia da B4A.
Referencias
- Corey et al., 2015. Environmental behavior and analysis of agricultural súlfur. Pest Management Science, DOI: https://doi.org/10.1002/ps.4067.
- Chaudhary e Goya, 2019. Sulphur oxidizing fungus: A review. Journal of Pharmacognosy and Phytochemistry. https://www.phytojournal.com/archives/2019/vol8issue6/PartA/8-5-546-665.pdf.
- Lucheta e Lambais, 2012. Sulfur in Agriculture. R. Bras. Ci. Solo, DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-06832012000500001
- Zhao et al., 2017. Abundance and diversity of sulphur-oxidising bacteria and their role in oxidising elemental sulphur in cropping soils. Biol Fertil Soils. DOI: https://doi.org/10.1007/s00374-016-1162-0.