Diferenças no controle das doenças radiculares da soja

Conheça as principais diferenças no controle das doenças radiculares na soja e o que é preciso saber para direcionar o manejo.

A cultura da soja pode ser acometida por diferentes doenças radiculares, ou seja, aquelas que causam danos no sistema de absorção de água e nutrientes das plantas.

Nesse sentido, os primeiros sintomas das doenças que são observados são indiretos, em parte aérea – caso do amarelecimento e da murcha, que antecedem a morte. Tais sintomas indicam problemas nas raízes e podem ser constatados por um exame radicular, que pode apontar também o escurecimento e o apodrecimento de raízes.

Apesar de sintomas normalmente semelhantes, existem diferenças no controle das doenças radiculares. Por isso, listamos a seguir as práticas agronômicas estudadas e indicadas para as principais doenças radiculares da soja, sendo elas:

  • Podridão negra da raiz, causada pelo fungo Macrophomina phaseolina
  • Podridão vermelha da raiz, causada por fungos do complexo de espécies Fusarium solani
  • Podridão de Phythopthora, causada pelo oomiceto Phytophthora sojae

Controle químico das doenças radiculares da soja

O controle químico para estas doenças é feito diretamente no tratamento de sementes, já que os fungicidas se movem internamente no sentido ascendente, ou seja, não atingem as raízes das plantas. Com isso, as doenças radiculares da soja podem ser controladas quimicamente das seguintes formas:

  • Podridão negra da raiz (M. phaseolina): O tratamento de sementes com a mistura dos fungicidas Captan + Tiofanato metílico tem apresentado bons resultados para o controle desta doença (5), assim como misturas de Piraclostrobina e Tiofanato metílico (7).
  • Podridão vermelha da raiz (F. solani):  O tratamento de sementes com fungicidas do grupo dos SDHI (exemplo: Fluopiram e Pidiflumetofen) tem sido satisfatórios para o controle desta doença.  O controle químico para o nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines) também pode auxiliar (9), uma vez que os ferimentos causados pelo nematoide aumentam a severidade da doença radicular.
  • Podridão de Phytophthora (P. sojae): Em suma, o tratamento de sementes para o controle desta doença pode ser realizado com fungicidas do grupo dos anti-oomicetos (exemplo: formulações de Metalaxyl) (2).

Controle biológico das doenças radiculares da soja

Por outro lado, o controle biológico das doenças radiculares da soja pode ser feito das seguintes formas:

  • Podridão negra da raiz (M. phaseolina): Vários microrganismos para o controle biológico da podridão negra da raiz têm sido investigados. Micro-organismos como Trichoderma harzanium, Brettanomyces naardensis, Bacillus amyloliquefaciens, Pseudomonas fluorescens, Bacillus subtilis têm apresentado potencial de biocontrole para este patógeno em estudos laboratoriais (5). É importante mencionar que há três produtos registrados no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para o uso no controle desta doença.
  • Podridão vermelha da raiz (F. solani): Vários microrganismos têm sido estudados para o controle biológico desta doença. Trichoderma harzianum e também fungos arbusculares Rhizophagus irregularis e R. intraradices têm reduzido a severidade da doença (9). É importante mencionar que há dois produtos registrados para o biocontrole deste patógeno no MAPA. Além disso, o controle visando o nematoide Heterodera glycines também pode ajudar a reduzir a severidade desta doença.
  • Podridão de Phytophthora (P. sojae): Em estudos laboratoriais, os gêneros Bacillus, Streptomyces e Trichoderma spp. apresentaram potencial de biocontrole para esta doença. Já o Bacillus velezensis, por exemplo, apresentou resultados promissores em condições de campo (2). Entretanto, até o momento não há produtos biológicos registrados no MAPA para o uso no controle desta doença.

Controle genético das doenças radiculares da soja

Já o controle genético de tais doenças pode ser feito das seguintes formas:

  • Podridão negra da raiz (M. phaseolina): Não existem cultivares com gene R (resistência qualitativa) para esta doença, ou seja, aquelas que previnem a infecção de M. phaseolina. No Brasil, só existem as que têm resistência moderada à podridão negra da raiz, reduzindo ou compensando os danos da doença com a emissão de novas raízes ou com o sistema radicular mais vigoroso (5).
  • Podridão vermelha da raiz (F. solani): Nesse sentido, também não existem cultivares com gene R para esta doença. No Brasil, existem algumas opções de cultivares com resistência moderada a podridão vermelha da raiz, cujos sintomas podem ser observados sob condições de alta pressão de inoculo (9).
  • Podridão de Phytophthora (P. sojae): Por outro lado, existem várias cultivares com genes de resistência R para a podridão de Phytophthora, fato que difere do controle das outras doenças radiculares da soja. Assim sendo, este grupo de cultivares apresentam resistência desde os estágios iniciais, prevenindo os sintomas de damping-off (tombamento de plântulas) e o apodrecimento de raízes de plantas adultas. Ademais, também existem cultivares que possuem a “resistência quantitativa”, e que apresentam vários genes de resistência. Neste caso, porém, elas não previnem o damping-off (1,2).

Práticas culturais no controle das doenças radiculares da soja

Além disso, também é possível fazer o controle de doenças radiculares da soja por meio de práticas culturais, tais como:

  • Podridão negra da raiz (M. phaseolina): Dentre as práticas culturais recomendadas estão a irrigação e manejos que favorecem a supressividade do solo (3, 5). A irrigação das plantas pode reduzir a severidade dos sintomas causados por M. phaseolina (5), uma vez que condições que desfavorecem o vigor das plantas favorecem essa doença. Com relação a supressividade, a prática da semeadura direta, por exemplo, favorece maior abundância e atividade microbiana do solo, promovendo mais antagonistas e um sistema radicular mais saudável (6). Por outro lado, a rotação de culturas não tem sido recomendada como prática de controle para a podridão negra da raiz, visto que M. phaseolina possui uma ampla gama de hospedeiros, como algodão, milho, canola (5) e plantas daninhas (8).
  • Podridão vermelha da raiz (F. solani): Neste caso, algumas práticas que reduzem a compactação do solo têm sido recomendadas, pois a alta umidade favorece o desenvolvimento desta doença (9). Além do mais, a rotação de culturas também é uma opção para o controle da podridão vermelha da raiz, pois existem algumas espécies vegetais que são hospedeiros fracos ou não hospedeiras de F. solani. Dentre as espécies que podem ser utilizadas na rotação estão alguns cereais, forrageiras e brássicas, como Vicia villosa, Camelina sativa, Brassica juncea, Pennisetum glaucum, Secale cereale, Lolium multiflorum, Triticale hexaploide, e Triticum aestivum (4). Por fim, outras práticas que promovam um solo supressivo têm sido destacadas por vários autores para o controle desta doença (4, 9, 10, 11).  
  • Podridão de Phytophthora (P. sojae): Neste caso, as práticas que reduzem a compactação do solo também têm sido recomendadas, pois a alta umidade favorece o desenvolvimento desta doença. Porém, a rotação de culturas não tem sido recomendada, pois os oósporos, estruturas de resistência do patógeno, sobrevivem durante anos no solo mesmo na ausência de cultura hospedeira (1, 2). Entretanto, a rotação entre soja e milho pode suprimir o desenvolvimento da doença, por conta dos exsudados radiculares do milho (12).

Como direcionar o manejo?

As doenças de plantas ocorrem quando há condições ambientais favoráveis, hospedeiro suscetível e patógeno virulento. Portanto, a identificação do patógeno antes do plantio e a avaliação dos seus fatores de risco auxilia no direcionamento de práticas mais assertivas para cada doença.

Neste sentido, recomenda-se o uso de métodos moleculares como o BIODETEC da Biome4all para identificar a espécie do patógeno e a quantidade de inóculo no solo.

Além disso, uma das poucas práticas comuns no controle das doenças radiculares da soja são as que promovem a supressividade do solo. Para saber como está a supressividade do solo da sua propriedade a partir da análise do microbioma, entre em contato com a Biome4all.

Texto: Camilla Castellar, P&D em microbiologia da Biome4all.

Referências

  1. Dorrance, A.E. Management of Phytophthora sojae of soybean: a review and future perspectives, Canadian Journal of Plant Pathology, 2018, https://doi.org/10.1080/07060661.2018.1445127.
  2. Giachero, M.L., Declerck, S., Marquez, N. Phytophthora Root Rot: Importance of the Disease, Current and Novel Methods of Control. Agronomy, 2022. https://doi.org/10.3390/agronomy12030610.
  3. Gupta, G.K., K. Sharma, S.K., Ramteke, R. Biology, Epidemiology and Management of the Pathogenic Fungus Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid with Special Reference to Charcoal Rot of Soybean (Glycine max (L.) Merrill), Journal of Plant Pathology, 2012. https://doi.org/10.1111/j.1439-0434.2012.01884.x
  4. Leandro, L.F.S., Eggenberger S., Chen C., Williams J., Beattie G.A., Liebman M, et al. Cropping system diversification reduces severity and incidence of soybean sudden death syndrome caused by Fusarium virguliforme. Plant Disease, 102, 1748–58, 2018. https://doi.org/10.1094/PDIS-11-16-1660-RE.
  5. Marquez, N., Giachero, M.L., Declerck, S.,Ducasse, D.A. Macrophomina phaseolina: General Characteristics of Pathogenicity and Methods of Control. Frontiers in Plant Science,  2021. https://doi.org/10.3389/fpls.2021.634397.
  6. Perez-Brandán, C., Arzeno, J. L., Huidobro, J., Grümberg, B., Conforto, C., Hilton, S., et al. Long-term effect of tillage systems on soil microbiological, chemical and physical parameters and the incidence of charcoal rot by Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid in soybean. Crop Protection, 2012. https://doi.org/10.1016/j.cropro.2012.04.018.
  7. Reznikov, S., Vellicce, G.R., González, V. et al. Evaluation of chemical and biological seed treatments to control charcoal rot of soybean. J Gen Plant Pathol, 2016. https://doi.org/10.1007/s10327-016-0669-4.
  8. Reis, E.M., Boaretto, C., Danelli, A.L.D. Macrophomina phaseolina: density and longevity of microsclerotia in soybean root tissues and free on the soil, and competitive saprophytic ability. Summa phytopathologica, 2014. https://doi.org/10.1590/0100-5405/1921.
  9. Rodriguez, M.C., Francisco Sautua, F., Scandiani, M., Marcelo Carmona, M., Asurmendi, S. Current recommendations and novel strategies for sustainable management of soybean sudden death syndrome, Pest Management Science, 2021. https://doi.org/10.1002/ps.6458
  10. Srour, A.Y., Gibson, D.J., Leandro, L.F.S., Malvick, D.K., Bond, J.P., Fakhoury ,A.M. Unraveling microbial and edaphic factors affecting the development of sudden death syndrome in soybean. Phytobiomes Journal, 1, 91–101, 2017. https://doi.org/10.1094/PBIOMES-02-17-0009-R.
  11. Westphal A, Xing L. Soil suppressiveness against the disease complex of the soybean cyst nematode and sudden death syndrome of soybean. Phytopathology, 101, 878–86,  2011. https://doi.org/10.1094/PHYTO-09-10-0245
  12. Zhang, H., Yang, Y., Mei, X., Li, Y., Wu, J., Li, Y., Wang, H., Huang, H., Yang, M., He, X., Zhu, S., Liu, Y. Phenolic Acids Released in Maize Rhizosphere During Maize-Soybean Intercropping Inhibit Phytophthora Blight of Soybean. Frontiers in Plant Science, 2020. https://doi.org/10.3389/fpls.2020.00886.
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