Frequentemente tenho sido questionado sobre como duas culturas diferem, em relação à microbiota associada aos seus solos. Muitos também me perguntam sobre os micro-organismos que normalmente estão associados a uma determinada cultura. Nesta postagem, irei responder tomando como base duas das principais culturas brasileiras, a soja e a cana-de-açúcar, utilizando a informação presente nos bancos de referência da B4A.
Os principais grupos de bactérias dos solos com soja
Quando examinamos todo o conjunto de amostras de solo cultivados com soja, nós podemos perceber que três grupos de bactérias são predominantes: Proteobacteria, Acidobacteria e Actinobacteria (Figura 1). Estes três grupos perfazem 70% das espécies presentes nestes solos e realizam funções extremamente benéficas para a soja como, por exemplo:
- Disponibilização de nitrogênio e fósforo (Proteobacteria);
- Estimulação do crescimento vegetal (Acidobacteria);
- Aumento da fertilidade do solo (Actinobacteria).
Entre os principais gêneros de bactérias que vivem neste solo, a maioria pertence a organismos ainda não descritos. Contudo, o gênero mais frequente é Kaistobacter que é muito abundante em vários solos agrícolas. Além disso, este gênero apresenta propriedades benéficas importantes. Demonstrou-se, por exemplo, que ele está associado á supressividade de solos a pragas e doenças.
As bactérias de solos com cana-de-açúcar
Nos solos cultivados com cana-de-açúcar, os três grupos de bactérias dominantes são Actinobacteria, Proteobacteria e Chloroflexi, em ordem decrescente de ocorrência. Nós podemos notar que dois destes grupos também são proeminentes em solos cultivados com soja. Na verdade, estes dois grupos estão entre os mais comuns nos solos em geral. Os solos cultivados com cana-de-açúcar se destacam no terceiro grupo, Chloroflexi. Os microbiologistas conhecem pouco da biologia destas bactérias. Sabe-se que a sua frequência é maior em ambientes que apresentam substâncias tóxicas e estes micro-organismos podem executar uma função importante na degradação de defensivos agrícolas, o que contribui para a saúde do solo.
Em relação aos principais gêneros de bactérias de solos de cana-de-açúcar, todos já foram descritos previamente. Encontra-se, entre eles, o gênero presente Kaistobacter, bem como organismos muito ativos na degradação da matéria orgânica (Saccharothrix e Nocardioides), na fixação do CO2 (Rhodoplanes) e utilizados em bioinsumos agrícolas (Bacillus). Portanto, toda esta microbiota realiza importantes funções para a manutenção da saúde deste solo.
As comunidades de fungos destes solos são similares
Ambos os tipos de solos são dominados pelo filo fúngico Ascomycota (Figura 2). Nestes solos, este filo perfaz mais de 75% dos fungos presentes. Este resultado não surpreende, uma vez que este filo compreende a maioria dos fungos descritos, sendo geralmente o mais abundante nos solos. Os fungos mais conhecidos por todos nós, como, por exemplo, Trichoderma e Saccharomyces, geralmente pertencem a este filo.
Quando examinamos os gêneros de fungos, o dominante em ambos os solos é Fusarium. Este gênero é bem conhecido na área agrícola, pois muitas de suas espécies causam danos às lavouras. Apesar disso, podemos perceber que Fusarium é um habitante comum dos solos. Muitas de suas espécies vivem ali da decomposição da matéria orgânica, e algumas delas se tornam prejudiciais quando as condições são favoráveis para isso. Os outros gêneros de fungos diferem bastante entre os dois tipos de solo.
Espero que com este texto eu tenho ajudado você a compreender um pouco mais a microbiota dos solos, um componente que se torna cada vez mais importante na produção agrícola brasileira. Em postagens futuras irei abordar a microbiota de outras culturas de grande relevância para o nosso país.
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Dr. Marcus Adonai Castro da Silva – cofundador da B4A.