Por definição, micorrizas são associações mutualísticas entre certos tipos de fungos e raízes das plantas em que ambos se beneficiam. De maneira geral, há dois tipos: as ectomicorrizas e as endomicorrizas.
Nas ectomicorrizas, o fungo não penetra a raiz da planta, apenas coloniza a parte externa, envolvendo-a. Já nas endomicorrizas os fungos penetram nas células das raízes, podendo uma mesma espécie de árvore viver associada a mais de 40 fungos.
Aliás, alguns tipos de micorrizas liberam grandes quantidades de enzimas nos solos, aumentando a disponibilidade de nutrientes para os vegetais. A seguir, vamos aprofundar nas endomicorrizas. Confira:
Endomicorrizas
As endomicorrizas estão presentes em 80% das plantas vasculares terrestres, o que prova a relevância desta interação biológica. Os fungos endomicorrízicos, por sua vez, são classificados no filo Glomeromycota e compreendem cerca de 300 espécies.
Quando associados aos vegetais, estes fungos produzem estruturas chamadas arbúsculos, cuja função é promover a troca de substâncias entre as partes. Por conta disso, são conhecidos como fungos micorrízicos arbusculares.
Formação e importância para as plantas
Para interagir com uma planta, o esporo de um fungo micorrízico germina no solo e produz um micélio que reconhece o vegetal. Em seguida, o fungo produz a estrutura hifopódio, cujas hifas penetrantes se estendem ao meio intracelular do vegetal.
Uma vez no interior da célula da planta, o fungo produz o arbúsculo, aumentando a superfície de contato com o vegetal. Nesta interação, o fungo e a planta se comunicam por vários sinais químicos.
Além disso, os fungos endomicorrízicos realizam a transferência de nitrogênio orgânico e fósforo para o vegetal, assim como aumentam a absorção de alguns microelementos, como zinco, manganês e cobre, além de água.
Por fim, os fungos endomicorrízicos também contribuem para a resistência da planta contra fitopatógenos e nematódeos. Em contrapartida, as plantas fornecem em troca o carbono fixado, na forma de açúcares e vitaminas essenciais.
Importância para a agricultura
Ainda que o reconhecimento da importância ecológica das micorrizas venha de longa data, o seu estudo no contexto agrícola é escasso quando comparado ao estudo de outros tipos de micro-organismos.
Porém, o interesse sobre a aplicação destes fungos na agricultura (como alternativa aos produtos de uso mais tradicional, principalmente) aumentou bastante a partir dos estímulos oriundos das políticas nacionais de uso de bioinsumos.
Uma das possibilidades de utilização indicada pela Embrapa reside nas culturas do cerrado. Nesses solos, há uma baixa disponibilidade de fósforo, o que limita o crescimento vegetal.
Porém, as micorrizas podem aumentar a capacidade de absorção de fósforo dos vegetais quando cultivadas nestes locais, aumentando a produtividade.
As micorrizas também podem ser utilizadas em um contexto mais ambiental, relacionado às práticas agrícolas. Um exemplo é a estratégia de recuperação ambiental a partir do biocontrole e da colonização de solos degradados.
Outra possibilidade é o emprego das micorrizas como forma de aumentar os processos de ciclagem dos elementos nos solos, incluindo a capacidade de sequestro de carbono.
Produção comercial de micorrizas
Produzir micorrizas é mais difícil do que outros micro-organismos, uma vez que esses fungos só vivem em associação com as plantas, o que impede o seu cultivo em meio sintético.
Ou seja, a produção de micorrizas se dá de forma associada com as raízes das plantas em vários sistemas como, por exemplo, cultivos in vitro ou em casas de vegetação.
Até o momento, apenas uma empresa possui registro no Ministério do Abastecimento, Agricultura e Pecuária (MAPA) para produzir inoculantes baseados em fungos micorrízicos arbusculares.
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Texto: Prof. Marcus Adonai Castro da Silva – microbiologista e cofundador da B4A